Rosane Tremea, jornalista, ZERO HORA 27/08/2011
É a expressão do título a que eu mais tenho ouvido nas últimas duas semanas. Sim, eu estou feliz por estar viva, sempre agradeci por isso. Mas eu não consigo me conformar em estar viva e amedrontada. Medo paralisa, medo constrange, medo restringe, medo afasta. Também tenho ouvido “bem-vinda ao clube”. E isso também me dá medo.
Tanto uma quanto a outra expressão, por mais que sejam tentativas de pessoas queridas de nos consolarem, trazem embutido o nosso conformismo.
Se eu sou roubada às 4 horas da tarde de um domingo ensolarado numa avenida movimentada, se me apontam uma arma, se levam meu carro, meus documentos, se me transformo em mais uma vítima da violência urbana, preciso me contentar em estar viva e, de lambuja, ainda passo a integrar esse clube nefasto?!
Parece que nos conformamos em esperar que o raio não caia mais de uma vez no mesmo lugar ou com o fato de não sermos os únicos.
Você já passou por isso? Sabe o que me impressionou? Ouvir, nos dias seguintes ao malfadado acontecimento, dezenas de relatos iguais, parecidos, piores. Ou saber de histórias trágicas como a que vitimou uma fotógrafa de 52 anos, mãe de dois filhos.
Alguém me falou em “sensação de insegurança”. Mas se esse tipo de crime cresceu mais de 22% em julho deste ano, comparado a julho de 2010, e eu mesma integro agora as estatísticas, então não é sensação, é? Por que nos conformamos? Por que não cobramos? Será o mesmo mecanismo que nos deixa acostumados com a violência doméstica, com os maus-tratos a crianças, com as injustiças, com a corrupção?
Eu não quero me conformar. Vou seguir agradecendo o fato de estar viva, mas não quero fazer parte desse clube. Não quero ficar apavorada ao cruzar com outro ser humano na rua. Nas últimas duas semanas, para mim, todo mundo virou suspeito.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Tive o mesmo sentimento ao ser assaltado. Por não portar arma, não reagi e aceitei "prudemente" as ordens dos meliantes adolescentes. Meu filhos e minha mulher já tinham sido assaltados e eu estava "virgem". Acostumado a atender ocorrências no meu tempo de rua junto com meus subordinados, via nas pessoas o medo, a impotência, a indignação, os limites da polícia, a omissão dos políticos e a injustiça das leis. Mesmo sentimento que tive no momento em que fui assaltado, agora numa situação de aposentado e fora do sistema de segurança pública.
Hoje, os únicos instrumento do Estado que protegem 24 horas o cidadão são as forças policiais que, além do retrabalho pela falta de continuidade na justiça, são debilitadas pelos governantes, exercem seus deveres no ciclo fracionado e contam com agentes em número insuficiente que os fazem desaparecer das ruas, mal pagos, saúde debilitada e trabalho estressante devido às jornadas extras que fazem para aumentar a rende familiar e não se submeter à corrupção.
É, Rosana. Como eu, agradeça a Deus por estar viva e que só perdemos bens materiais. Muitos não tiveram a mesma sorte, tenham reagidos ou não. Resta usar nossa experiência e indignação para lutar com todas as forças e vozes para acordar o Estado e conclamar a sociedade organizada e povo brasileiro a votar em governantes comprometidos com a educação, saúde e segurança, e exigir dos magistrados a aplicação coativa das leis contra as ameaças à paz social, aos recursos públicos e ao futuro de nossos filhos e netos.
Leia e reflita sobre este comentário que mandei e foi publicado em Zero Hora de 26/08/2011.
"Discordo da conclusão do editorial “Criminalidade à solta” (ZH de 23 de agosto), de que a defesa da população gaúcha depende da rapidez e eficácia das polícias como organizações de segurança. As polícias estão se esforçando, apreendendo grande quantidade de armas e drogas e superlotando os presídios. O problema está na falta de continuidade, na burocracia e na morosidade da Justiça, e na falência da execução penal que violenta o apenado, estimula a impunidade, incentiva o descaso e produz benevolências que aterrorizam ainda mais a população amedrontada e impotente. Jorge Bengochea. Militar – Porto Alegre
Postado por Jorge Bengochea às 06:25
É a expressão do título a que eu mais tenho ouvido nas últimas duas semanas. Sim, eu estou feliz por estar viva, sempre agradeci por isso. Mas eu não consigo me conformar em estar viva e amedrontada. Medo paralisa, medo constrange, medo restringe, medo afasta. Também tenho ouvido “bem-vinda ao clube”. E isso também me dá medo.
Tanto uma quanto a outra expressão, por mais que sejam tentativas de pessoas queridas de nos consolarem, trazem embutido o nosso conformismo.
Se eu sou roubada às 4 horas da tarde de um domingo ensolarado numa avenida movimentada, se me apontam uma arma, se levam meu carro, meus documentos, se me transformo em mais uma vítima da violência urbana, preciso me contentar em estar viva e, de lambuja, ainda passo a integrar esse clube nefasto?!
Parece que nos conformamos em esperar que o raio não caia mais de uma vez no mesmo lugar ou com o fato de não sermos os únicos.
Você já passou por isso? Sabe o que me impressionou? Ouvir, nos dias seguintes ao malfadado acontecimento, dezenas de relatos iguais, parecidos, piores. Ou saber de histórias trágicas como a que vitimou uma fotógrafa de 52 anos, mãe de dois filhos.
Alguém me falou em “sensação de insegurança”. Mas se esse tipo de crime cresceu mais de 22% em julho deste ano, comparado a julho de 2010, e eu mesma integro agora as estatísticas, então não é sensação, é? Por que nos conformamos? Por que não cobramos? Será o mesmo mecanismo que nos deixa acostumados com a violência doméstica, com os maus-tratos a crianças, com as injustiças, com a corrupção?
Eu não quero me conformar. Vou seguir agradecendo o fato de estar viva, mas não quero fazer parte desse clube. Não quero ficar apavorada ao cruzar com outro ser humano na rua. Nas últimas duas semanas, para mim, todo mundo virou suspeito.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Tive o mesmo sentimento ao ser assaltado. Por não portar arma, não reagi e aceitei "prudemente" as ordens dos meliantes adolescentes. Meu filhos e minha mulher já tinham sido assaltados e eu estava "virgem". Acostumado a atender ocorrências no meu tempo de rua junto com meus subordinados, via nas pessoas o medo, a impotência, a indignação, os limites da polícia, a omissão dos políticos e a injustiça das leis. Mesmo sentimento que tive no momento em que fui assaltado, agora numa situação de aposentado e fora do sistema de segurança pública.
Hoje, os únicos instrumento do Estado que protegem 24 horas o cidadão são as forças policiais que, além do retrabalho pela falta de continuidade na justiça, são debilitadas pelos governantes, exercem seus deveres no ciclo fracionado e contam com agentes em número insuficiente que os fazem desaparecer das ruas, mal pagos, saúde debilitada e trabalho estressante devido às jornadas extras que fazem para aumentar a rende familiar e não se submeter à corrupção.
É, Rosana. Como eu, agradeça a Deus por estar viva e que só perdemos bens materiais. Muitos não tiveram a mesma sorte, tenham reagidos ou não. Resta usar nossa experiência e indignação para lutar com todas as forças e vozes para acordar o Estado e conclamar a sociedade organizada e povo brasileiro a votar em governantes comprometidos com a educação, saúde e segurança, e exigir dos magistrados a aplicação coativa das leis contra as ameaças à paz social, aos recursos públicos e ao futuro de nossos filhos e netos.
Leia e reflita sobre este comentário que mandei e foi publicado em Zero Hora de 26/08/2011.
"Discordo da conclusão do editorial “Criminalidade à solta” (ZH de 23 de agosto), de que a defesa da população gaúcha depende da rapidez e eficácia das polícias como organizações de segurança. As polícias estão se esforçando, apreendendo grande quantidade de armas e drogas e superlotando os presídios. O problema está na falta de continuidade, na burocracia e na morosidade da Justiça, e na falência da execução penal que violenta o apenado, estimula a impunidade, incentiva o descaso e produz benevolências que aterrorizam ainda mais a população amedrontada e impotente. Jorge Bengochea. Militar – Porto Alegre
Postado por Jorge Bengochea às 06:25